Tuesday, September 6, 2016

VAZIOS



Andava pelo tempo,vazio de tudo,apenas acompanhado por uma tristeza que não conseguia entender nem saber de onde vinha,tudo fazia para se reencontrar,saia para a noite,juntava-se na multidão,sorria de alma vazia,bebia uns copos e falava de banalidades que não entendia,continuava sozinho,ou acompanhado por aquela tristeza que não o largava.
Só quem o olhasse no fundo do seu olhar se apercebia que algo o consumia,por dentro,quem o olhasse mesmo com atenção.
Acordava quando a manha ja tinha partido,ha alguns meses que assim era,levantar cedo para quê?ja era tão doloroso o dia,fechado dentro de uma casa demasiado grande para si só,acompanhado de uma t.v. velha e de sons que ja nem ouvia,assim só tinha que deixar passar as tardes,agora quentes e sem fim,a volta da cozinha ia ocupando o tempo,em cozinhados perdidos que sonhava partilhar,e que ficavam esquecidos a um canto no frigorífico,e aquela tristeza que o não deixava,sempre consigo.
Chegava a noite e o sono nunca vinha como esperava,horas e horas deitado num quarto escuro,sempre a perguntar o porquê,daquele vazio,de se sentir oco por dentro,por ter perdido parte de si no percurso e de já quase não se lembrar daquela pessoa que tinha ficado para trás e de que tanto precisava de encontrar dentro de si novamente.
Estava a perder a capacidade de entender os outros,e pior que tudo já não se reconhecia ou compreendia a ele próprio,tantas críticas soadas aos ouvidos,tantas recriminações,tantas falhas que lhe apontavam,e ele olhando-se ao espelho não reconhecia a pessoa de que falavam,seria possível que fosse dele que falavam??
Olhava a sua volta e o espelho reflectia uma imagem,mas ele não conhecia tal pessoa,só conseguia ver a tristeza que acompanhava aquele ser,e não o conseguia largar nem de dia,nem de noite.

      J.C.

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